O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que Mato Grosso do Sul pode apresentar redução de 7,4% na safra de grãos 2023/2024. A falta de chuvas e o calor excessivo são os principais problemas enfrentados pelos produtores rurais do Estado.
Dados do Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio (Siga-MS) estimam que até o início deste mês a área plantada na safra de soja 2023/2024 alcançou 62%, a porcentagem encontra-se inferior à da safra 2022/2023 em 5,4 pontos porcentuais.
A região sul está com o plantio mais avançado, com média de 64,9%, enquanto a região central está com 58,3% e a região norte com 54% de média. A área plantada, até o momento, é de 2,644 milhões de hectares.
Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), André Dobashi, o cenário é o reflexo do atraso do plantio na região norte.
“No ano anterior, estava com cerca de 80% de área plantada na referida data, e neste ano está com apenas 55%. O atraso é justificado pela baixa pluviometria na região e, apesar das possibilidades de esse atraso impactar a janela de plantio da próxima safra [milho], ainda há potencial para boas safras”, avalia.
A produtividade é estimada em 54 sacas por hectare, a média está dentro do potencial produtivo das últimas cinco safras do Estado, gerando a expectativa de produção de 13,818 milhões de toneladas. A projeção da produtividade é 8% inferior à da safra passada, quando o Estado colheu recorde de 15 milhões de toneladas de soja.
CLIMA
Uma nova onda de calor chegou a Mato Grosso do Sul e deve manter as temperaturas acima de 40°C em boa parte dos municípios nos próximos dias.
Conforme nota técnica do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec-MS), as mudanças severas na temperatura nesta primavera foram intensificadas pela atuação do El Niño. “Ainda não é possível prever até quando a massa de ar quente permanecerá sobre a região”, aponta o Cemtec-MS.
De acordo com o pesquisador agrometeorologista da Embrapa Agropecuária Oeste Éder Comunello, o fenômeno El Niño pode impactar negativamente o setor.
“Os efeitos indesejáveis do El Niño, como o atraso das chuvas e a ocorrência de ondas de calor, podem comprometer a viabilidade das lavouras ou pelo menos reduzir os ganhos do produtor”, enfatiza.
Após sete anos de sua última passagem pela Região Centro-Oeste, onde comumente o El Niño eleva as temperaturas e o volume das chuvas, o evento climático ocorre em consequência do aquecimento das águas do Oceano Pacífico tropical, tendo efeitos significativos na agricultura.
“Apesar de a sua atuação ser benéfica para algumas culturas, o evento também está associado a outros efeitos, como a irregularidade hídrica, o aumento das temperaturas e a ocorrência de veranicos, que podem prejudicar a produção agrícola”, reitera o agrometeorologista.
No geral, 96,6% das áreas estão em bom estado e 3,4% em estado regular. O presidente da Aprosoja-MS indica cuidados em anos de baixa precipitação, com a necessidade do manejo adequado.
“Para minimizar os danos das altas temperaturas e baixas precipitações, a adoção da rotação de culturas com plantas de cobertura, aliada ao sistema de plantio direto, é uma excelente ferramenta para a deposição de palhada no solo, uma vez que, além de melhorar aspectos microbiológicos, químicos e físicos, a resteva ainda auxilia no controle de temperatura e retenção de umidade”, finaliza Dobashi.
RETROSPECTO
O fenômeno El Niño já interferiu na agricultura de MS, sendo a última vez em 2015/2016, episódio considerado um dos três mais severos dos últimos 50 anos. Naquele ano, as temperaturas do Oceano Pacífico elevaram-se a níveis recordes, atingindo o ápice no 1º trimestre de 2016.
Datados desde 1900 pelas organizações climáticas, foram registrados 26 eventos de El Niño no Brasil, onde cerca de 50% foram seguidos por um ano neutro, enquanto 40% foram seguidos por La Niña.
Nos anos de 2015 e 2016, o fenômeno provocou as mais altas temperaturas da história. Entretanto, Mato Grosso do Sul atingiu produção recorde de 7,6 milhões de toneladas (7.597.014 quilos) na safra de soja daquele ano, conforme levantamento do Siga-MS.
O maior problema destacado pelos produtores diante do El Niño foi a dificuldade para realizar a colheita em razão do excesso de chuvas durante o ciclo, o que dificultou o manejo das lavouras, gerou grãos avariados, além de perdas de áreas alagadas e dificuldade de escoamento da colheita.
27%
A saca de soja com 60 kg caiu mais de 27% no intervalo de um ano, e os preços se aproximam dos praticados em 2020. Em novembro de 2022, os 60 kg da oleaginosa eram comercializados a R$ 172,66, enquanto na semana passada eram negociados a R$ 124,82.
Fonte: Correiodoestado
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