A arroba do boi gordo acumula queda de 23,11% no intervalo de um ano em Mato Grosso do Sul. Em agosto de 2022, a arroba era comercializada a R$ 287,22, em média, no mercado físico local, enquanto neste mês o preço médio é de R$ 220,84. Somente no acumulado deste ano, o valor da arroba despencou 18,13%.
Em janeiro, a arroba do boi gordo era negociada a R$ 251,48, já no fechamento da sexta-feira, foi a R$ 205,87 – esta é a maior queda já registrada em um período de menos de oito meses. Empresários do setor já estimam cenário pessimista, com pouca possibilidade de retomada do mercado neste segundo semestre.
Dados da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) demonstram que, na última semana, a cotação apresentou retração, com destaque para variação negativa de 5,45%, com o preço da arroba saindo de R$ 217,73 para R$ 205,87.
Utilizando como referência o dia 17 de cada mês, é possível observar que os primeiros meses deste ano apontaram uma tentativa de reação no valor da arroba do boi, chegando a custar R$ 266,88 no mês de abril. A partir de maio, o preço da arroba passou a sofrer oscilações negativas, foi a R$ 244,77 em maio, a R$ 226,55 em junho e a R$ 237,88 em julho.
O presidente Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Guilherme Bumlai, destaca o momento de dificuldade vivenciado no mercado do boi gordo. “Isso é reflexo da oferta e da demanda desproporcional vivenciada no Estado atualmente”, pontua.
Em complemento, Melo ressalta que a baixa demanda do mercado interno, aliada a questões sanitárias, afetou a cadeia de exportação e, como reflexo, produziu uma queda de preços muito forte no mercado interno.
“No fim de abril, as cotações do boi gordo começaram a despencar. Em junho, os preços caíram abaixo de R$ 235 a arroba do boi gordo no Estado. Em julho, abaixo de R$ 230 e, em agosto, abaixo de R$ 220, nos patamares atuais”, detalha o economista.
No cenário nacional, a situação não é diferente: os valores pagos aos produtores registram declínio de 23% no ano. Analistas da pecuária apontam a queda como uma das piores da história, sendo puxada pela alta demanda de animais que ainda persiste neste mês.
PANORAMA
Em matéria publicada no Correio do Estado no dia 26 de junho deste ano, Bumlai já apontava um momento de dificuldade para a pecuária de corte do Estado: “Apesar de os principais insumos [milho e soja] registrarem uma queda significativa desde o início do ano, o valor da arroba do boi gordo continua pouco competitivo, com uma margem de lucro muito apertada para o produtor”.
O representante do SRCG explica que o fator que mais pressiona para baixo as cotações da arroba do boi gordo é a questão da demanda interna, uma vez que os frigoríficos estão conseguindo consolidar estoques nos patamares atuais de preço, e isso mantém o mercado pressionado.
“Outro fator que podemos destacar também é a questão dos custos, que estão menores em razão dos baixos preços do milho e da soja no País. Nesse sentido, em que pese os custos estarem menores, o cenário não é positivo para os produtores rurais do Estado”, afirma Melo.
Bumlai reitera que há alta quantidade de animais disponíveis para o abate no momento e que a atividade de consumo não tem reagido conforme as expectativas do mercado produtor, o que faz com que o representante da Acrissul aposte em um reaquecimento de mercado a médio prazo.
O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de Mato Grosso do Sul deve seguir tendência de queda pelo segundo ano consecutivo. Para este ano, a estimativa aponta para R$ 19,7 bilhões de VBP da pecuária, resultando em queda de 6,6% ante o valor registrado em 2022, de R$ 21,173 bilhões. Em 2021, o VBP da pecuária do Estado foi avaliado em R$ 21,3 bilhões.
Vale destacar que os preços pagos ao produtor seguem a mesma lógica de redução. Conforme levantamento da Granos Corretora, o preço pago pela arroba do boi despencou quase 30% em dois anos.
No comparativo entre agosto de 2021, quando a arroba custava R$ 313,14, e os valores médios praticados neste mês, de R$ 220,84, queda é de 29,47%.
CONSUMIDOR
Na outra ponta da cadeia produtiva, a queda de preço da carne bovina para o consumidor final não é tão acentuada quanto os preços pagos ao produtor rural.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Campo Grande, o preço dos cortes de carne bonina tiveram redução de até 11,80% no acumulado de janeiro a julho.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial, aponta redução preços do quilo da alcatra (2,82%), do coxão mole (4,51%), do contrafilé (5,62%), da capa de filé (8,13%), do músculo (10,55%) e, a maior redução aferida, da costela (11,80%).
Os dados coletados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) de janeiro a julho deste ano apontam queda de apenas 4,64% nos cortes pesquisados (coxão mole, patinho e coxão duro), saindo de R$ 39,58, em janeiro, para R$ 37,74, em julho.
A supervisora do Dieese em Mato Grosso do Sul, Andreia Ferreira, explica que a coleta de preços é feita para os três tipos de cortes.
“Fazemos uma ponderação desses preços que estão apresentando redução, mas ainda bem aquém do que as pessoas esperam”, indica.
Ainda de acordo com a supervisora, os frigoríficos estão demorando a repassar essa diminuição para os revendedores e, consequentemente, para os consumidores, por isso, há uma mudança no comportamento do consumidor final.
“Trocou-se tipos de carne, o frango tem baixado consistentemente [de preço], virando uma opção, e aumentou consumo de carne suína também”, conclui Andreia.
Pesquisa realizada pela reportagem na semana passada nos supermercados da Capital aponta que os preços dos mesmos cortes bovinos levantados pelo Dieese tiveram uma queda mais acentuada em agosto, variando entre R$ 22,99 e R$ 32,99, com preço médio de R$ 31,77.
Fonte: correiodoestado
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