A fazenda Figueira, pivô do atentado que levou à condenação de Jamil Name Filho a 23 anos e 6 meses de prisão, tinha dívidas superiores ao valor das terras. Mesmo assim a família Name comprou o imóvel. Corretores de imóveis rurais ouvidos pelo Correio do Estado foram unânimes em afirmar que esse tipo de negócio só faz quem tem certeza de que conseguirá, por conta de sua influência, “quebrar a maior parte destas dívidas”.
Conforme o depoimento do advogado Antônio Augusto de Souza Coelho exibido pelo Ministério Público durante o júri pela morte de Matheus Xavier, assassinado em abril de 2019, havia “dívidas de mais de cem milhões de dólares só com a Receita Federal”. Pela cotação atual, isso equivale a quase R$ 500 milhões.
Além disso, segundo o depoimento do advogado, havia uma infinidade de dívidas com o fisco estadual e com multas ambientais milionárias aplicadas tanto por órgãos estaduais quanto federais.
Em um dos vídeos exibidos pelo MPE, o advogado também deixou claro que a família Name aos poucos foi pagando todas estas dívidas e as terras foram sendo transferidas em etapas para a empresa Trianon, da família Name.
Mas, de acordo com o advogado Antônio Augusto, que segundo Jamilzinho é pós-graduado em Direito Possessório, a negociação envolvia somente duas partes da Figueira, que estariam dentro do Parque Nacional da Serra da Bodoquena ou na área de transição entre terras agricultáveis e o parque, totalizando quase 9,6 mil hectares.
Nessa parte da Figueira, segundo os corretores ouvidos pela reportagem, o hectare não vale mais de cinco a seis mil reais atualmente, já que estas terras mais cedo ou mais tarde podem ser totalmente confiscadas pela União, por fazerem parte de um parque de preservação ambiental.
Ou seja, estas partes da Figueira valem hoje em torno de R$ 60 milhões, mas só a dívida com a Receita Federal, segundo Antônio Augusto, superava os cem milhões de dólares (R$ 500 milhões). Então, de acordo com corretores que ouviram o depoimento, ou o advogado se enganou, ou ele mentiu, ou os 9,5 mil hectares de terras agricultáveis da Figueira também estavam no negócio ou os Name realmente compraram “gato por lebre”.
Mas a explicação mais provável para este “negócio da China” feito com as terras que pertenciam aos coreanos do reverendo Moon é a de que os compradores tinham certeza de que conseguiriam derrubar total ou parcialmente estas dívidas com base na influência que sempre tiveram nos órgãos públicos, incluindo o Poder Judiciário.
SABEDORIA POPULAR
“Cliente meu nenhum compra esse tipo de fazenda. A primeira coisa que um produtor rural comum pede é a certidão negativa de débitos. Qualquer corretor sério já orienta o comprador a prestar atenção nessa questão Esse povo quebrava todas estas dívidas na base da influência”, afirmou um dos corretores ouvidos pelo Correio do Estado que exigiu anonimato justamente por temer essa influência.
Outro corretor resumiu em poucas palavras aquilo que ele acredita que tenha sido a motivação para que fizessem esse tipo de negócio. “Eles conseguem transformar gato em lebre”.
De acordo com o “dicionário” Google, a expressão “comprar gato por lebre” é usada para caracterizar uma situação em que se é enganado. Ela surgiu em tempos de carestia e de guerra. Nesta época, era comum comerciantes venderem carne de gato no lugar de lebre como alimento, devido à semelhança entre os dois animais após lhes retirarem a pele.
Ainda de acordo com a investigação que levou à condenação de Jamilzinho, a “sentença de morte” do ex-PM Paulo Xavier, pai de Matheus, e do advogado Antônio Augusto foi decretada durante um jantar na casa dos Name no qual seriam feitos os acertos finais sobre o valor restante da dívida da família Name relativa à compra da fazenda Figueira. O problema é que os pistoleiros, em vez de matar Paulo Xavier mataram o filho dele.
Por conta do desacerto sobre este valor, Jamilzinho teria até mesmo sacado uma arma para tentar matar o advogado, mas foi impedido pela mãe e pelo desembargador Joenildo Chaves, que participavam do jantar que acabou antes mesmo de o bacalhau ser servido.
Jamilzinho, conforme a investigação do MPE, teria chegado à conclusão de que Paulo Xavier, antigo prestador de serviços da família, teria se aliado ao advogado a ajudado a dar uma espécie de golpe na família.
E, de acordo com declarações do promotor Douglas Oldegardo durante o júri nesta quarta-feira (19), o valor final dessa dívida seria da ordem de R$ 30 milhões. Jamil Name Filho, porém, afirmou em seu depoimento que seriam em torno de R$ 3 milhões.
BMW X6 E MERCEDES
Além de ter quitado todos os débitos públicos, que superavam meio bilhão de reais, e assumir que ainda devia em torno de R$ 3 milhões ao advogado, Jamilzinho ainda revelou que repassou 600 mil dólares em espécie, uma BMW X6 e pelo menos um veículo Mercedes como forma de pagamento pelas terras.
Jamil Name Filho também declarou, em seu depoimento no júri, que largou a faculdade de Direito ainda no primeiro ano porque gosta mesmo é de “fazer negócios”. Deixou claro ainda que é um negociante bem sucedido, pois mora num condomínio de alto padrão, tem “meia dúzia” de guardas municipais a seu serviço e teria condições de bancar carro blindado para cada um de seus filhos, caso sentisse necessidade de garantir a segurança deles.
Então, conforme deixaram claro os corretores ouvidos pela reportagem, algum segredo ele realmente deve ter ao “comprar gato por lebre” e ainda assim sair lucrando.
Fonte: CorreiodoEstado
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