O castelo de cartas de Francisco Cezário – construído ao longo dos 26 anos em que esteve no topo cadeia hierárquica do futebol de Mato Grosso do Sul – desmoronou em 2024, marcando o ponto de virada aguardado por muitos que há anos defendiam sua saída de de campo.
Culpando a gestão, os entusiastas do esporte regional e os próprios torcedores eram críticos ferrenhos da precariedade do futebol no Estado. A descrição do que se via há anos era de um grande futebol amador tentando parecer profissional.
Porém, o que não sabiam (ou apenas suspeitavam) é que a má qualidade do futebol sul-mato-grossense era sintoma de um esquema de lavagem de dinheiro que desviou pelo menos R$ 10 milhões que deveriam estar investidos no esporte.
Mas, em sua fortaleza de cartas aparentemente impenetrável, o Rei de Ouros do futebol sul-mato-grossense não imaginava que os dias no trono terminariam em 2024. Em maio, Cezário recebeu cartão vermelho e saiu do campo direto para a cadeia.
Agora, passados cerca de 7 meses após a queda de Cezário, o futebol de MS segue juntando as cartas para reerguer um novo castelo chamado FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul).
Entretanto, enquanto o futebol passou por turbulência, 2024 foi ano de Jogos Olímpicos. Mesmo com toda a dificuldade estrutural encontrada em Mato Grosso do Sul, atletas de MS tiveram a chance de brilhar em solo parisiense.
Nesta retrospectiva de 2024, o Jornal Midiamax relembra tudo que levou a queda do figurão do futebol e a ascensão dos esportes olímpicos em Mato Grosso do Sul.
A queda de Cezário
Cezário foi ‘deposto’ na Operação Cartão Vermelho, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) na manhã do dia 21 de maio. Conforme informações do Gaeco, o grupo liderado por ex-mandatário da FFMS realizava pequenos saques de até R$ 5 mil para não chamar atenção dos órgãos de controle. De setembro de 2018 a fevereiro de 2023, os desvios identificados superaram os R$ 6 milhões.
Pela estimativa, os valores podem chegar até os R$ 10 milhões. Somente durante o cumprimento dos mandados naquela manhã, a polícia apreendeu mais de R$ 800 mil, inclusive em notas de dólar. Os valores eram distribuídos entre os integrantes da organização criminosa.
As acusações são de integrar organização criminosa, peculato, furto qualificado, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Além de Cezário, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) denunciou outras 11 pessoas pelos mesmos crimes.
Além disso, o esquema ainda se estendia também a outras empresas que recebiam altas quantias da federação. Assim, uma parte dos valores voltavam ‘por fora’ ao grupo. A organização criminosa também possuía um esquema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado de MS em jogos do Campeonato Estadual de Futebol.
Cartão vermelho
Conforme o Gaeco, o nome da operação faz alusão ao instrumento utilizado pelos árbitros para expulsar os jogadores que cometem faltas graves durante as partidas de futebol. E assim aconteceu com Cezário. Além de enfrentar o inquérito policial, o ex-dirigente também enfrentou a destituição na FFMS.
Atualmente, ele está em liberdade provisória, usando tornozeleira eletrônica, enquanto aguarda julgamento. Quando à FFMS, Assembleia Extraordinária, em outubro, votou pela sua destituição da presidência da entidade.
Nesta assembleia, os associados avaliaram os atos do gestor e coube a eles deliberarem sobre as consequências e penalidades previstas no estatuto. Porém, o advogado de Cezário contestou a legalidade do ato administrativo, já que não houve intimação para que o ex-presidente se defendesse.
Efeito dominó
Entretanto, muita água rolou entre a Operação Cartão Vermelho e a destituição de Cezário da presidente da FFMS. Sua prisão gerou um efeito dominó na entidade que deixou um caos e ainda não foi completamente arrumado. Sete meses após a queda de Cezário, a federação segue sem um presidente oficial.
Neste meio tempo, Estevão Petrallas, que atuava na diretoria do Operário Futebol Clube, foi indicado ainda em maio pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para chefiar interinamente a FFMS. Com isso, o caos já instaurado ganhou tons de animosidade, acusações e suspeitas de golpe.
Petrallas repetiu em diversas ocasiões que precisou ficar semanas se explicando para todos e se defendendo de ataques antes de ‘arrumar a casa’. Além disso, o prazo inicial definido pela CBF para que Estevão ficasse na FFMS era de 3 meses.
Depois que os ânimos se acalmaram e os dirigentes aceitaram Petrallas na liderança, seu primeiro ato foi a mudança da sede da FFMS. Assim, de uma estrutura marcada pela corrupção na Rua 26 de agosto, a nova sede passou a ser em uma estrutura recém-reformada na rua 14 de Julho, chamada de ‘Casa do Futebol’.
Nave sem comando?
A transição no comando da FFMS se arrasta desde junho deste ano, quando os clubes decidiram, em assembleia, que novas eleições deveriam ocorrer ainda em 2024. Mas Cezário não ia deixar o osso sem lutar.
Depois de muitas reuniões, assembleias e mudança no estatuto, a FFMS marcou a votação para 1º de novembro de 2024, mas o Tribunal de Justiça Desportiva de Mato Grosso do Sul (TJD-MS) a suspendeu devido ao não cumprimento dos prazos previstos nos editais para a divulgação das candidaturas.
A defesa do ex-presidente abriu ação na Justiça de Mato Grosso do Sul para tentar impedir a definição de um novo dirigente e conseguiu a suspensão. Na ação, Cezário pontuou que o vice-presidente, Marco Antônio Tavares, também é acusado na investigação sobre desvios.
Além disso, alegou que não foi “intimado formalmente para que pudesse apresentar defesa sobre cada uma das situações apontadas no “parecer jurídico”” da Assembleia da FFMS.
Derrota na Justiça
Em outra ação, a Justiça indeferiu a liminar interposta por Cezário para tentar anular os resultados da assembleia, em dezembro. A defesa tentou alegar que o presidente interino, Estevão Petrallas, colocou “a carroça na frente dos bois” ao convocar a assembleia sem antes instaurar um procedimento interno para apurar a conduta de Cezário no âmbito administrativo da FFMS.
O advogado Júlio César Marques também diz que o ex-mandatário não teve direito a defesa. Porém, a juíza Cíntia Xavier Letteriellon não encontrou elementos apresentados nos autos do processo que comprovassem a nulidade da assembleia e da vindoura eleição.
Apesar de marcada originalmente para o dia 1º de novembro, os imbróglios judiciais fizeram com que a eleição fosse adiada. Os clubes de Mato Grosso do Sul decidiram manter o atual estatuto da federação e postergar as eleições para a presidência da entidade para depois do Campeonato Estadual Série A de 2025. Com isso, a previsão é de que a votação aconteça em abril de 2025.
SAF
Entretanto, toda essa situação envolvendo a federação de futebol também virou a chave para os clubes. Em 2024, foram dezenas de reuniões entre os dirigentes e representantes e horas de discussão. Uma modalidade que vem caindo no gosto dos grandes clubes nacionais também chegou em Mato Grosso do Sul em meio a todo o caos.
Em novembro, a Associação Atlética Portuguesa foi o primeiro clube de MS que se tornar uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol), para buscar destaque no cenário nacional com o novo modelo de gestão.
Em coletiva, o presidente da Lusa, Gilmar Ribeiro, o Mazinho, detalhou a nova fase do clube. Com a mudança de governança, a Associação Atlética Portuguesa passa a se chamar Futebol Clube Pantanal SAF.
Semanas depois, no começo de dezembro, foi a vez do Comercial – clube tradicional de Campo Grande, que enfrenta fase ruim – anunciar a mudança de gestão de olho no retorno à Série A. A migração para SAF deve ocorrer em 2025.
O Colorado possui 9 títulos estaduais e um de Mato Grosso, em 1975. A última vez que ganhou o estadual foi em 2015. O empresário Marlon Brandt, assumiu a presidência no lugar de Cláudio Barbosa que segue como vice-presidente. Neste ano, o Comercial disputou a Série B, porém não conseguiu o acesso. Quem subiu foi o Naviraiense e Águia Negra.
Olimpíadas de Paris 2024
Mas 2024 também foi ano de Jogos Olímpicos e motivo para celebração, já que os atletas sul-mato-grossenses subiram ao pódio em Paris, na França. Ao todo, MS esteve representado em 13 atletas e staff nas competições.
Além disso, Mato Grosso do Sul teve cinco medalhas para chamar de ‘suas’ nas edições das Olimpíadas e Paralimpíadas 2024. Pela equipe mista do Brasil, Rafael ‘Baby’ Silva, que anunciou a aposentadoria, conquistou o bronze pelos Jogos Olímpicos.
Já Yeltsin Jacques trouxe para casa uma medalha de ouro e outra de bronze pelo Atletismo nas Paralimpíadas. Fernando Rufino, o ‘Cowboy de Aço’, conquistou pela canoagem um ouro e Paulo Henrique Andrade um bronze no Salto em distância.
Midiamax
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