Maior processo de aborto no Brasil aconteceu em Campo Grande; relembre como uma microcâmera revelou o esquema criminoso

Em 2007, uma investigação exclusiva da TV Morena, com imagens captadas por uma microcâmera, expôs um dos maiores esquemas de aborto já descobertos no Brasil. Funcionando por 20 anos no centro de Campo Grande (MS) com o nome de “clínica de planejamento familiar”, o local realizou mais de 10 mil procedimentos ilegais.

Sobre a reportagem
Com a ajuda de uma microcâmera, dois jornalistas se passaram por pacientes que tinham a intenção de se consultar. Após preencherem a ficha, a recepcionista, que evitava falar a palavra “aborto”, avisou que o o valor do procedimento era baseado no tempo de gestação.

Uma tabela, encontrada pela polícia durante a vistoria da clínica, comprovou que os valores do procedimento ilegal podiam variar de R$ 5 mil a R$ 20 mil.

Após pagarem a consulta, que na época custava R$ 120, os supostos pacientes passaram por uma psicóloga, que tentou convencer a produtora sobre a simplicidade do procedimento. “A gente é contra até o momento em que vemos a necessidade de fazer. Por isso não dá para pré-julgar ninguém”, disse a psicóloga.

O local funcionou de 1997 a 2007, quando a reportagem denunciou o procedimento ilegal. Três dias após a exibição da reportagem, a polícia invadiu a clínica e retirou de lá 9.896 fichas de mulheres que haviam feito aborto no local.

Neide Mota Machado
Após ser denunciada por formação de quadrilha, prática de aborto, ameaça e posse ilegal de arma, a responsável pela clínica ficou quase dois meses foragida. Neide foi encontrada escondida em uma chácara em Terenos, no interior de Mato Grosso do Sul, propriedade de uma delegada aposentada.

A médica ficou presa por quase 40 dias, até que seus advogados conseguiram um habeas corpus para que ela respondesse em liberdade.

Em entrevista à TV Morena, Neide justificou que realizava os procedimentos para que as mulheres “tivessem um lugar onde fosse bem feito”, já que , elas poderiam procurar um lugar ruim e morrer.

O Conselho Regional de Medicina abriu um processo contra Neide após a exibição da reportagem e deu dez dias para que ela se explicasse sobre as acusações.

Em liberdade, o depoimento de uma das funcionárias — que confessou a realização dos abortos — colocou a médica de volta no banco dos réus.

Antes do julgamento, marcado para fevereiro de 2010, no qual Neide e outras quatro funcionárias responderia por 26 abortos, a médica tirou a própria vida. Ela foi encontrada morta dentro de um carro.

A iniciativa integra as celebrações pelos 60 anos da TV Morena. As reportagens que marcaram a trajetória da emissora estão disponíveis na Globoplay, enquanto as publicações semanais no ‘Memórias TV Morena’ irão relembrar as principais coberturas dessas seis décadas de história.

Fonte G1MS

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