No vasto cenário do agronegócio brasileiro, são muitas as Yannas, Luanas, Roselaines, Carols e Jennifers que se destacam por suas trajetórias de luta, coragem, inovação e sustentabilidade, ajudando a dar novos contornos à arte de produzir o algodão, fibra tão intimamente ligada ao feminino. Cada uma, com sua história, contribui para a transformação do setor, imprimindo nele seus talentos, que enriquecem e diversificam as práticas agrícolas no país.
O algodão brasileiro tem evoluído em tecnologia e na forma como valoriza quem faz parte dessa cadeia, sobretudo, as mulheres. Só entre as fazendas certificadas pelo programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), são mais de 4.891 vagas diretamente ocupadas por elas, na safra 2023/2024, e isso faz parte do compromisso da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, Abrapa, com o aumento da presença feminina na produção em todos os níveis do setor, principalmente, na tomada de decisões. O ABR, ao certificar boas práticas ambientais, sociais e econômicas, fortalece as garantias de respeito às pessoas que fazem o algodão chegar ao mundo com qualidade e responsabilidade. Em seu dia a dia, as mulheres do algodão percebem os avanços proporcionados por esse compromisso. Nas fazendas, com melhores condições de trabalho, segurança, treinamentos e um reconhecimento em progressão.
“É um caminho a seguir, e está longe de ser fácil, mas é muito bom constatar que as mulheres estão dia a dia aumentando a participação no setor, seja na produção, pesquisa, transformação, logística, comercialização e tantas outras áreas. Grande parte delas, na liderança e decisão”, comemora o presidente da Abrapa, Gustavo Piccoli. Para a Abrapa, o algodão não é apenas uma fibra têxtil, mas o fio que conduz e entrelaça histórias, e incorpora, nesse tecido, dedicação e compromisso com um futuro melhor.
Yanna Costa: o retorno às raízes com um olhar sustentável
No universo do algodão brasileiro, a presença feminina tem crescido e se consolidado, trazendo novas perspectivas para o setor. Yanna Costa, coordenadora do ABR-Sustentabilidade da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), é um exemplo desse movimento. Sua trajetória acadêmica e profissional reflete a dedicação ao agro e à responsabilidade ambiental. “Meus pais saíram do campo e eu voltei.”
Natural do Pará, Yanna iniciou sua formação em Agronomia na Universidade Federal Rural da Amazônia (PA) e seguiu para o mestrado na Universidade Federal de Viçosa, além de um doutorado na Unesp de Jaboticabal (SP). Sua carreira sempre esteve ligada à pesquisa e à sustentabilidade, e foi nessa jornada que encontrou seu caminho até o algodão.
Antes de assumir seu papel na Abapa, trabalhou na fiscalização agropecuária do Pará e na docência universitária, sempre com um olhar voltado para a conscientização ambiental e as boas práticas no campo. Ao ingressar no Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), passou a atuar diretamente com as fazendas certificadas, reforçando o compromisso do setor com a sustentabilidade.
Yanna destaca que a presença feminina no agro tem avançado, mas ainda há desafios. “A gente tem um olhar mais criterioso e detalhista, é algo natural. Mas as barreiras culturais ainda existem, especialmente em relação à voz e ao espaço que ocupamos”, comenta. Apesar disso, ela vê mudanças concretas acontecendo, como a presença crescente de mulheres na operação de máquinas agrícolas e em funções de liderança.
Para o futuro, Yanna acredita que o caminho é continuar incentivando a participação feminina no setor. “Todas nós somos capazes de fazer tudo o que quisermos. O importante é não ter medo”, finaliza.
Luana Boff: tradição familiar e inovação no campo
Desde pequena, Luana Boff carrega no coração a essência do campo. Filha de agricultores, cresceu entre as lavouras e os ensinamentos do pai, que sempre lhe mostrou o valor da terra e do trabalho no agro. Hoje, ao lado da irmã Marina e da família, Luana gerencia o setor administrativo do negócio da família, as Fazendas Indaiá. A unidade produtora de pluma está localizada em Chapadão do Sul (MS). E o algodão, que há 25 anos entrou para a história da propriedade, tornou-se não apenas um dos pilares da produção, mas uma paixão pessoal.
“O algodão trouxe uma revolução para nós. Ele nos desafia constantemente a evoluir, a buscar mais conhecimento e a adotar práticas sustentáveis”, conta Luana, que também é vice-presidente da Associação Sul-Mato-Grossense do Produtores de Algodão (Ampasul).
A cultura, exigente e cheia de desafios, trouxe à fazenda avanços técnicos e maior responsabilidade ambiental. E foi nessa jornada que a certificação do Algodão Brasileiro Responsável (ABR) passou a ter um papel fundamental.
Certificada há oito anos, a Fazenda Indaiá se tornou um exemplo de produção responsável no país. “A certificação nos ensina a sermos melhores a cada dia. Ela nos faz olhar com mais atenção para o que podemos aprimorar, garantindo que nossa produção respeite as pessoas e o meio ambiente”, explica Luana. Para ela, as mulheres têm um papel fundamental nesse processo. Seja no campo, na gestão ou na fiscalização das boas práticas, a presença feminina na fazenda se destaca. “As mulheres têm um olhar cuidadoso, detalhista. E isso faz toda a diferença quando falamos de certificação, sustentabilidade e responsabilidade social”, ressalta. Atualmente, cerca de 20% da equipe da fazenda é composta por mulheres, ocupando funções essenciais.
Embora tenha se formado em Direito, Luana nunca exerceu a profissão. Seu verdadeiro chamado sempre esteve na gestão agrícola, onde encontrou formas de aplicar seu conhecimento. Com especialização em gestão administrativa e financeira, assumiu a missão de garantir a evolução contínua da propriedade.
Mãe de duas meninas, ela vê na nova geração um reflexo do amor que sempre sentiu pelo agro. “Minhas filhas já demonstram interesse pelo que fazemos. Acho maravilhoso ver esse ciclo se renovando. O futuro do agro passa pelas próximas gerações, e espero que elas encontrem um setor cada vez mais justo e equilibrado para todos”, reflete.
No Dia Internacional da Mulher, Luana celebra a trajetória feminina no agronegócio. “As mulheres sempre estiveram presentes no agro, mas agora estamos ganhando mais espaço e reconhecimento. Nosso trabalho é essencial para o futuro do setor, e cada passo que damos torna o caminho mais acessível para as próximas gerações”, conclui.
Roselaine Lins: uma jornada de coragem e transformação
No coração do Brasil, em Querência, no estado de Mato Grosso, a história de Roselaine Aparecida Silva Lins emerge como um testemunho de coragem, determinação e transformação no agronegócio. Aos 29 anos, Roselaine trilhou um caminho que inspira, desafiando paradigmas.
Formada em Engenharia de Produção Agroindustrial pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Roselaine sempre sentiu uma conexão profunda com a terra e suas potencialidades. Em dezembro do mesmo em que se formou, 2019, ingressou no processo seletivo para trainee na Fazenda Tanguro, localizada em Querência, uma das unidades da Amaggi Agro. Foi ali que, em 2020, teve seu primeiro contato com a cultura do algodão, participando ativamente da implantação da algodoeira da fazenda.
Após um ano no programa de desenvolvimento como trainee, assumiu a posição de líder de apoio à produção, onde acompanhou de perto a armazenagem e expedição da pluma de algodão. Posteriormente, tornou-se coordenadora da algodoeira, estando diretamente envolvida no processo produtivo. Atualmente, como supervisora da algodoeira, lidera uma equipe que, nos períodos de pico, conta com 110 colaboradores, dos quais 99% são homens.
No início, Roselaine enfrentou certa resistência por parte da equipe masculina. No entanto, sua paixão pelo trabalho e o acolhimento recebido foram fundamentais para superar essas barreiras. “Acredito que o que me fez apaixonar pela cotonicultura foi o acolhimento que eu tive por ser uma mulher nesse ambiente agro, por parte da empresa, e pela minha equipe de colaboradores da Fazenda Tanguro”, diz.
Desde o início das operações de beneficiamento, a unidade aderiu ao Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), refletindo seu compromisso com práticas sustentáveis e socialmente responsáveis. Roselaine participou ativamente desse processo de certificação, evidenciando a importância da sustentabilidade desde a produção agrícola.
Ela observa que o agro está se abrindo cada vez mais à participação feminina, especialmente em cargos de liderança. “Hoje, podemos observar muitas mulheres à frente de equipes, e vemos que o ambiente está realmente se abrindo”, destaca. “Se você tem vontade e acredita que tem as qualificações necessárias e quer estar no agro, não desista e não deixe que outras pessoas te desencorajem, independentemente de qualquer coisa, a liderança se faz pelo exemplo”, aconselha.
Jennifer Onetta: determinação e excelência na operação do algodão
Engenheira Agrícola e Ambiental formada pela Universidade Federal de Mato Grosso (MT), Jennifer iniciou sua jornada no algodão em 2019, diretamente na operação de beneficiamento da fibra. Ela é gerente de Operações na Elisa Agro Sustentável, localizada em Britânia (GO). Desde então, tem se destacado em um ambiente ainda predominantemente masculino, liderando equipes e implementando melhorias que elevaram a eficiência e a qualidade dos processos na algodoeira em que atua.
“Sempre busquei a competência e mostrar que sou capaz, assim como qualquer outro profissional. No fim, estamos todos trabalhando pelo mesmo objetivo”, afirma Jennifer. Seu comprometimento se traduz em resultados concretos. Sob sua gestão, a unidade otimizou a produção e conquistou a certificação ABR, garantindo que a fazenda opera dentro dos padrões de sustentabilidade e segurança.
Atualmente, Jennifer é a única mulher na operação da algodoeira, liderando uma equipe que, na safra, pode chegar a 50 trabalhadores. “No início, tive que me posicionar, demonstrar conhecimento e segurança. Mas, hoje vejo que esse espaço está cada vez mais sendo ocupado por mulheres, e isso é um grande avanço”, comemora. “Nosso foco é manter o padrão de qualidade e garantir que a certificação seja mantida”, reforça.
Quando questionada sobre o que diria a outras mulheres que desejam entrar no setor, Jennifer é enfática: “Nós, mulheres, somos capazes de conquistar tudo o que quisermos. Basta ter coragem e força de vontade. Nada é impossível!”
Carol Martignago: a força feminina que inspira e transforma o algodão brasileiro
Desde pequena, Carol Martignago já respirava o algodão. Cresceu acompanhando a família no campo, em meio às plantações que, há mais de 20 anos, fazem parte da história do Grupo Três Estrelas, em Primavera do Leste (MT). Mas foi na faculdade de Agronomia que veio a paixão definitiva pela cultura. Durante um estágio na fazenda, percebeu que o algodão exigia dedicação, conhecimento e, acima de tudo, um olhar atento aos detalhes – características que ela incorporou naturalmente à sua trajetória.
O caminho, no entanto, não foi simples. Carol enfrentou desafios, olhares duvidosos e algumas barreiras invisíveis. Mas provou que competência não tem gênero. Hoje, como diretora do Grupo Três Estrelas, ela lidera uma equipe de aproximadamente 600 colaboradores, sendo 30% mulheres.
“Desde o início, percebi que, mais do que provar meu valor, eu precisava conquistar a confiança da equipe. Nunca enxerguei preconceito direto, mas sabia que era um ambiente diferente para mim. O que fez a diferença foi a forma como os funcionários me acolheram e me ensinaram. Eles entenderam que eu estava ali para somar e crescer junto com eles”, conta Carol.
Além da gestão do grupo, Carol se dedica à manutenção da certificação do algodão brasileiro, sendo responsável pelos selos ABR e BC (Better Cotton), na empresa.
Com visão estratégica, ela provou que a certificação era uma necessidade para a competitividade e sustentabilidade do algodão brasileiro. “Hoje, é impossível comercializar o algodão sem a certificação. Ela garante que nosso produto respeita normas ambientais, sociais e trabalhistas, trazendo confiabilidade para o mercado”, explica.
Para Carol, o futuro do agro passa, inevitavelmente, pela força feminina. “Cada mulher precisa reconhecer seu valor e impacto na sociedade. Nossa presença no agronegócio transforma, inova e inspira. O mundo precisa de cada uma de nós”, finaliza.
Fonte: Abrapa
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