UTI que poderia salvar bebê está nos planos há 10 anos, mas nunca saiu do papel - Bolsão News

UTI que poderia salvar bebê está nos planos há 10 anos, mas nunca saiu do papel

Era para ser, mas não foi. Embora anunciada há mais de 10 anos, a construção de uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal em Corumbá, para salvar a vida de bebês que nascem prematuros ou com outras complicações graves, nunca chegou a sair do papel.

Se hoje existisse, daria maior chance de sobrevivência a Arthur, que nasceu aos seis meses de gestação no último 13 de janeiro. Questões de contrato para transporte aéreo e espera por vaga em Campo Grande fizeram o recém-nascido aguardar três dias por assistência especializada. Mesmo sendo um menino forte, na avaliação dos médicos, ele não resistiu.

O prematuro ficou internado na Santa Casa de Corumbá, hoje gerida pela prefeitura. Era lá que a UTI neonatal com atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde) deveria ficar, se o que já foi dito estivesse concretizado.

Corumbá fica a 428 quilômetros de Capital, para onde geralmente são encaminhados os bebês. A distância é longa para quem mora no município do interior, situado ao extremo oeste de Mato Grosso do Sul. Nem na rede particular do município há essa unidade para atender bebês.

Licitação e anúncio – O ex-prefeito Ruiter Cunha, já falecido, prometeu à cidade a construção e chegou a lançar licitação em 2013 para contratação de empresa que iria realizar a obra. No entanto, publicação no Diário Oficial do Município determinou que o pregão e seu resultado fossem cancelados a pedido da procuradoria jurídica da Secretaria Municipal de Saúde.

Nova tentativa de levar o projeto adiante foi feita mais tarde, em 2017, quando o Município estava em vias de receber R$ 40 milhões emprestados do Fonplata (Fundo Financeiro Para o Desenvolvimento da Bacia do Prata). Parte do recurso seria investido para estruturar o atendimento a bebês que precisam de UTI.

Atual prefeito de Corumbá e que assumiu a gestão da cidade após a morte do antecessor, Marcelo Iunes afirma que a UTI Neonatal nem chegou a ir para o papel como projeto do Fonplata, e que também não consta como obra prevista em contrato.

“Em momento algum foi feito um documento, alguma relação de que isso seria colocado como contrapartida”, disse o prefeito à reportagem. Em consulta ao Portal da Transparência da prefeitura, também não há registro de qualquer transferência financeira para a construção.

Iunes admite que houve mudança de planos em relação aos recursos do Fonplata quando assumiu a administração. “Muitos daqueles projetos eu troquei, porque eu acho que não tinha nada a ver, naquela época, você trabalhar com urbanização, sendo que a cidade não tinha nem asfalto”, justifica sobre as alterações. As obras de infraestrutura urbana previstas foram feitas, mas não houve investimento na UTI neonatal ou em alguma outra estrutura voltada à saúde.

Repasse estadual – Para dar nova esperança à criação da UTI neonatal em Corumbá, o Governo de Mato Grosso do Sul chegou a anunciar em seu site oficial que parte do repasse de R$ 11,9 milhões feito em 2018 para o Município, serviria para isso.

No entanto, os demonstrativos do Portal da Transparência estadual oficializam que o dinheiro foi destinado à construção de Pronto Socorro, reforma da recepção da Santa Casa, implantação de 30 leitos de enfermaria e reforma do centro obstétrico na mesma instituição. Essa última obra, inclusive, ainda não terminou.

O prefeito diz que os quase R$ 12 milhões não foram direcionados à construção da UTI neonatal porque não houve contrapartida do Estado. O Campo Grande News questionou a SES (Secretaria Estadual de Saúde) sobre o motivo de a unidade ter saído dos planejamento, e se há alguma previsão para que volte a estar. Até o fechamento desta matéria, não houve resposta.

Iunes reconhece que a cidade necessita da estrutura neonatal, mas que, mesmo se tivesse, a prefeitura precisaria de ajuda estadual para mantê-la funcionando, já que o déficit nas contas da saúde municipal já alcançou os -R$ 500 mil.

“Eu sempre briguei para que tivesse UTI neonatal, desde que seja mantida pelo Estado. [Custaria] uma média de R$ 400 mil por mês, eu não tenho condições. Se hoje existe o déficit de R$ 500 mil, como vai aumentar R$ 400 mil [os gastos]?”, disse o prefeito.

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