O pai do bebê, de 4 meses, que caiu do 3º andar de um prédio, em Campo Grande, também será investigado por negligência. A mãe do bebê foi presa em flagrante por abandono de incapaz. À polícia, a mulher disse ter deixado a criança sozinha por 30 minutos para ir na casa de uma amiga.
Em depoimento à polícia, a mãe do bebê disse que deixou a menina sozinha no apartamento com a irmã, de 7 anos, e o irmão, de 3. A mulher afirmou ter ido pagar uma conta próximo a residência.
O pai do bebê poderá responder judicialmente por negligência. Ao g1, a delegada que investiga o caso, Nelly Macedo, disse que o pai das outras duas crianças também pode ter a conduta investigada.
“A criança mais velha narrou que não tem muito contato com o pai. O bebê de quatro meses, que foi a menina que se acidentou, nós tivemos a notícia de que o pai até compareceu ao hospital. Sobre a negligência, vamos apurar a participação, se eles estão pagando a pensão”, explicou a delegada.
A bebê está internada em estado grave na Santa Casa de Campo Grande, mas a família não autorizou que o hospital repassasse informações sobre o estado de saúde dela. A última atualização foi de que a menina sofreu hemorragia intracerebral e corria o risco de morte.
Mãe segue presa
A mãe da bebê foi presa em flagrante por abandono de incapaz e deve passar por audiência de custódia na quinta-feira (14). A mulher vai responder por abandono de incapaz, com qualificação de lesão corporal, já que a bebê ficou gravemente ferida.
Em depoimento, a mulher deu detalhes do porquê teve que deixar as crianças sozinhas.
“A mãe disse que saiu por alguns minutos e que não ia demorar, foi na casa próxima ao local, aparentemente, pra pagar uma dívida. Quando retornou, já encontrou o bebê ao solo. A mulher disse que a bebê tinha ficado dormindo e as outras crianças estavam com a responsabilidade de ficarem somente olhando a criança”, detalhou a delegada Nelly.
Conselho tutelar
De acordo com o Conselho Tutelar, a instituição já recebeu duas notificações por faltas frequentes da escola em que a criança de 7 anos estuda: a primeira em 2022 e a segunda, em abril de 2023.
O Conselho notificou a família para que fossem acompanhados, mas não há mais registros depois de abril deste ano. Os dois irmãos da menina estão sob tutela do Conselho Tutelar. Além disso, dois conselheiros estão acompanhando a bebê na Santa Casa.
A presidente da comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso do Sul (OAB-MS), Maria Isabela Saldanha, disse que já notificou o Conselho Tutelar de Campo Grande em nome da comissão.
“Ninguém pede para o conselheiro investigar, mas está na lei averiguar. Ir na casa da criança e ver que a criança estava em condições de insalubridade, ou passando fome. O conselho tinha que ter perguntado para essa mãe: ‘a senhora precisa de ajuda, vamos ligar pra assistência social?’. Esse é o trabalho do Conselho Tutelar. Isso evita muita coisa”, comentou Maria Isabela Saldanha.
A representante da OAB-MS também mostrou o gargalo enfrentado no combate à violência contra crianças e adolescentes em Campo Grande. “Nós temos um Conselho Tutelar que opera com metade do contingente que deveria operar. Nós temos uma cidade com quase 1 milhão de habitantes, que deveria ter no mínimo nove conselhos, mas temos cinco. Além disso, pra piorar, nós temos dentro do Conselho Tutelar conselheiros que agem com inércia e acabam ocasionando esses crimes”.
Como foi o caso
Bebê de apenas quatro meses caiu do 3º andar de um prédio no bairro Aero Rancho, em Campo Grande (MS), na noite de terça-feira (12). De acordo com a polícia, a menina estava sozinha com a irmã de 7 anos e o irmão de 3, quando o acidente aconteceu.
Vizinhos socorreram a menina e acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ela foi encaminhada para o Hospital Santa Casa de Campo Grande, em estado gravíssimo.
Na noite de ontem, a criança de 7 anos pegou a irmã no colo, porque ela estava agitada, e foi mostrar a vista da janela do apartamento em uma tentativa de acalmá-la. Neste momento, a menina se desequilibrou com a irmã no colo e a bebê caiu. As janelas não tinham telas de proteção.
“A gente conversou com a criança de sete anos. Ela trouxe até a janela pra acalmar a irmãzinha e ver a janela. No entanto, essa criança de sete anos, ela praticamente não tem altura pra chegar na janela. Ela teve que subir na cama pra chegar na janela. E, segundo ela relata, a criança estava em pezinho e empurrou com as pernas o próprio corpo da irmã. Nisso que ela empurrou, fez esse movimento e acabou desequilibrando. E a criança acabou caindo da janela”, explicou o delegado Gabriel Desterro.
Além das crianças estarem sozinhas no apartamento, o local estava em condições insalubres, com fezes pelo ambiente e louças acumuladas para lavar, segundo afirmou o delegado.
“Praticamente não tem móveis, era uma residência que indica um ambiente totalmente inadequado para a criação dessas crianças. No momento do fato, as crianças estavam sozinhas na residência, sendo uma de 7, outra de 3. E a bebezinha que acabou caindo da janela de 4 meses”, explica.
Fonte: G1MS
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