A chefe do RH do Comando Vermelho, copeira na ALMT (Assembleia Legislativa de Mato Grosso), foi avisada sobre vistorias nas celas da Gameleira II, e também que a facção estava sendo investigada e denunciada, segundo relatório do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
De acordo com o relatório do Gaeco, um agente público denominado como ‘Enfermeiro’, que trabalhava dentro da Gameleira, avisou a chefe do RH da facção, no dia 12 de janeiro de 2022, sobre as vistorias nas celas do Pavilhão I. Assim, a copeira entrou em contato com o advogado que fazia o papel de ‘pombo-correio’ para avisar os ‘guris’ sobre o que iria acontecer.
“Pois é, meu amado, quem passou essa informação aí foi ou o ENFERMEIRO que você fala com ele, entendeu? Então eu tenho o número dele através do XXX, né? Então aí ele foi, me passou essa situação que eu estava tendo. O NEGÓCIO LÁ, NÉ, VISTORIA”, dizia a mensagem enviada ao advogado que teria que ir até a penitenciária para avisar os membros do Comando Vermelho.
No dia 13 de janeiro, policiais penais fizeram uma vistoria no Pavilhão I da Gameleira, encontrando um celular, na cela 104. Ainda segundo as mensagens interceptadas pelo Gaeco, a chefe do RH fala que o informante não soube dizer o que realmente tinha sido apreendido, mas que teria sido ‘um bagulho louco’. Foi informado pelo ‘Enfermeiro’ que as pessoas que estavam jogando celulares dentro da Gameleira seriam as mesmas que estariam ‘caguetando’ a facção.
O ‘Enfermeiro’ chegou a relatar que a facção estava sendo investigada dentro do presídio. Durante as vistorias dentro da Gameleira, os agentes apreenderam quatro celulares que passaram por perícia feita pelo Gaeco e, então, foi descoberto o processo de expansão da facção criminosa no Estado.
O ‘Conselho dos 13’
O Comando Vermelho, alvo de uma operação do Gaeco, na deflagração da Operação Bloodworm, no dia 5 deste mês, tinha uma estrutura montada para a expansão da organização criminosa no Estado, que agia com seus membros do ‘Conselho dos 13’, de dentro do presídio Gameleira II, em Campo Grande.
Os membros do ‘Conselho dos 13’ tinham como presidente um detento do Rio de Janeiro, que era o 01. Ele tinha mais de 30 anos de condenação por tráfico de drogas, furto, roubo e porte ilegal de arma. O 02 da lista era o vice-presidente, preso na Gameleira e marido da chefe do RH da facção criminosa em Mato Grosso do Sul e copeira da ALMT (Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso).
O vice-presidente tem mais de 44 anos de condenação por homicídio, falsa identidade, roubo e furto. Na sequência da lista, vem o 03 que seria o porta-voz do Comando Vermelho, com mais de 20 anos de condenação, e logo em seguida temos o 04, filho da chefe do RH, que seria o tesoureiro do Comando Vermelho, com mais de 13 anos de condenação.
Desde os últimos meses do ano de 2021, os membros agem para estruturar a organização criminosa no Mato Grosso do Sul, tentando expandir o seu alcance, sendo que, para isso, teve início a filiação do maior número de membros para aumentar o poder bélico do Comando Vermelho no Estado.
A estratégia da facção criminosa era aumentar o alcance com o cometimento de crimes, como roubos, sequestros e tráfico de drogas ilícitas e, ainda, pagamento de contribuições de seus integrantes, conforme instituído em “regulamento” próprio. A contribuição pedida aos membros era de R$ 50 para ajudar os ‘irmãos’.
Em comunicado no grupo de WhatsApp denominado ‘Tropa do MS’, era informado como seriam feitas as vendas nas ‘lojinhas’ – as bocas de fumo – e as contribuições para o Comando Vermelho conseguir se fixar no Estado que era descrito como grande rota do tráfico de drogas.
“Visionando o Desenvolvimento e o Bom Funcionamento de Nossa ORGANIZAÇÃO* * CV.MS Pedimos a Todos irmãos e Companheiros CV.MS que Procurarem o Conselho do Estado ou Até Mesmo o Responsável da Sua Quebrada C.V Para Adquirir a Nossa Mercadoria, Assim Almejaremos o Nosso Crescimento no ESTADO Juntamente Com* *a* *Nossa* *Ética* *do* *CV.MS* *Precisamos do apoio de todos nesta luta*“, dizia parte da mensagem enviada ao grupo.
Estrutura do Comando Vermelho
O Comando Vermelho tinha no topo a célula ‘Progresso’: responsável por fomentar a parte financeira com o tráfico de drogas, que seus membros comercializavam no interior dos presídios e pela traficância nas chamadas “lojinhas” – bocas de fumo pelas quais inclusive os integrantes da alta cúpula recebem aluguéis – de propriedade da organização criminosa.
Outra forma de captação de recursos era através de crimes, especialmente roubos contra agências e caixas eletrônicos bancários, sendo que, para tanto, os criminosos se utilizam de equipamentos sofisticados e de alto impacto.
Em seguida temos o ‘Paiol’: responsável por atuação ininterrupta no comércio ilegal de armas de fogo e artefatos bélicos. Os integrantes deste setor também ficavam responsáveis pela guarda dos materiais bélicos e pela distribuição dentre seus membros quando determinados a cumprirem execuções e confrontarem membros de facções criminosas consideradas inimigas, sendo a mais conhecida o PCC.
Logo abaixo temos o ‘Disciplina’: que tem a incumbência de controlar ações praticadas por seus membros e de realizar o julgamento e atribuir possíveis punições contra aqueles que praticarem ações não contempladas em seu próprio “estatuto”.
O quadro também tem a finalidade de monitorar e exterminar membros de facções criminosas consideradas rivais, além de realizar o monitoramento, planejamento e execução de ações atentatórias contra membros do Poder Judiciário, Ministério Público e agentes públicos.
Operação
A operação foi deflagrada no dia 5 deste mês. Foi descoberto que agentes policiais penais e advogados estavam a serviço da facção criminosa. Segundo informações, o MPMS (Ministério Público Estadual) investigou por cerca de 15 meses e foi possível descobrir investidas tímidas no Estado, para estruturar e expandir a facção em Mato Grosso do Sul.
Ao todo, foram cumpridos 92 mandados de prisão preventiva e 38 mandados de busca e apreensão, em Campo Grande, Ponta Porã, Coxim, Dourados, Rio Brilhante, Sonora, São Gabriel do Oeste, Rio Verde de Mato Grosso e Dois Irmãos do Buriti, além do Rio de Janeiro, Goiânia, Brasília, Paulo de Faria, Várzea Grande, Cuiabá, Sinop, Cáceres, Marcelândia, Primavera do Leste, Vila Bela da Santíssima Trindade e Mirassol d’Oeste, no Mato Grosso.
O uso de celulares e as ações de “pombo-correio” feitas por advogados que integravam a facção – os gravatas – permitiam o contato entre os faccionados presos e seus comparsas em liberdade, a fim de traçar o planejamento de crimes como roubos, tráfico de drogas e comércio de armas, que foram reiteradamente praticados e comprovados durante a investigação, cujo proveito serviu para o fortalecimento do Comando Vermelho MS.
Fonte: Midiamax
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